Cebolo

Quem se lembra de calças à boca de sino, e também de chumaços nos ombros, lembra-se desse ícone da literatura musical chamado "Órgão Mágico".

Acalmem-se. Não me vou alongar em elogios a este canhenho de contornos já míticos, até porque há quem faça isso por mim noutros blogs, mas quero partilhar convosco uma pequena história ligada a este maravilhoso conjunto de folhas de musica, tão maestramente elaboradas por Eurico Cebolo...um saravá para ti, companheiro!

Foi há cerca de 3 anos, numa aparatosa e tardia viagem ao Algarve, no feriado de Carnaval. A malta juntou-se toda ao final do dia e fez-se à estrada.

Decorridas as necessárias horas passadas em cima da passadeira de alcatrão (que poético, quase como a prosa de Eurico Cebolo) heis que chegamos ao nosso destino. A fome apertava, mas logo encontrámos o nosso Oásis no meio do deserto...a pizaria Gato Preto.

Eram quase horas de fechar, é certo. Mas o bom estalajadeiro, ao ver tamanho grupo lhe entrar pela porta, fez contas à vida e achou que, se calhar, o dia afinal não tinha sido perdido, e logo prontificou-se a arranjar uma mesa comprida para nos acomodar.

Ao fim de alguns minutos, heis que chega uma personagem conhecida daquelas paragens por animar os bailaricos de Verão. Por razões de ordem técnica (por não me lembrar do nome desse portento) vamos apenas chamar-lhe "o anão Marco", primeiro porque ele era de facto um anão e segundo a sua farta melena encaracolada fazia lembrar Marco Paulo, nos seus tempos dos Dois Amores.

Já a pensar no que aí vinha, vejo o anão Marco saltar para trás de um portento órgão Yamaha (e saltar é porque ele teve mesmo de saltar para cima do banco) que fazia duas vezes ele em altura, e vejo-o puxar do microfone...oh lá!

-Boa noite, senhoras e senhores, o meu nome é (piiiiiiiiii)

É preciso lembrar o auditório da Malandreca que está estudado que senhores desta estatura compensam noutros lados. Uns dizem que é na zona da virilha, que é mais protuberante, mas outros (onde este com certeza se incluia) compensam num vozeirão possante e digno de rebentar qualquer escala de decibeis num raio de 80 km. Ponho as coisas da seguinte maneira: o senhor seria um forte candidato a ultrapassar a barreira do som. Agora imaginem isto, num pequeno....enfatizo o pequeno...restaurante no meio de nenhures.

Tanto assim foi que era praticamente impossivel uma pessoa conseguir falar com quem estava à frente, enquanto outros esqueciam a pizza no prato, à conta das lágrimas que escorriam cara abaixo, não sei se de tanto rir, se das dores provocadas no ouvido interno.

Ás tantas não tivemos outra hipótese senão pedir ao amável estalajadeiro que dissesse ao senhor para se moderar, ou então baixar o volume do órgão que, por esta altura, fazia vibrar os woofers das colunas ao som de "Não me quiseste, morena".

Pensávamos nós que o nosso trovador tinha sido finalmente admoestado, quando heis que surge um quinteto das terras do nordeste brasileiro (não se sabe bem de onde, mas estou convencida que tenha sido de uma nave espacial) armados de tamboris e guizos e sei lá que mais e afina-se a guitarra, o órgão e os vozeirões para um...e agora a bomba pela qual esperavam vós...Morango do Nordeste.

Nessa altura, a coca-cola foi cuspida na direcção do meu parceiro da frente, a minha amiga que se sentava ao lado foi tomada de um violento ataque de tosse, enquanto que o pessoal do fundo se entretinha a tirar fotografias de modo a recordar para mais tarde esse momento tão especial, o de "fazer xixi de tanto rir" colectivo.

Por isso, Eurico, daqui vai o meu grande obrigado, em nome de todos os anões Marco deste mundo, por o teu livro nos ter proporcionado tão grandes prazeres, como uma pizza fria no prato, meia coca cola desperdiçada, mas rematada com um belo Morango.

Malandreca