As jarras dos Monty Pyhton existem, e vivem em Portugal

E apanham o metro na linha amarela, em Lisboa. Estava eu muito bem sentada na carruagem, com os headphones do iPod bem enterrados no orelhame, a ouvir mais uma musiquinha no meu Malandreca's iPod mix, quando, sem aviso, duas jarras entram pelo metro dentro, mas a sua voz estridente e esganiçada já se ouvia desde o acesso à plataforma de há duas estações atrás...se sabem o que quero dizer.

"AAAAAAAIIII VOU-ME SENTAR, PORQUE JÁ NÃO AGUENTO AS PERNAS!"

E pumba, mesmo ao meu lado, como não podia deixar de ser. Depois, segue-se aquele discurso engraçado que estas pessoas têm, se tentar, com conversas de segundos entendidos, tentar fazer com que a pessoa do lado se levante para dar lugar à amiga e assim poderem ir mais à vontade na quadrilhice.

"TU TAMBÉM DEVES ESTAR MUITO CANSADA, COM UM TURNO SEGUIDINHO! COITADINHA"

Note-se que o lugar não estava reservado para pessoas idosas, deficientes motores, grávidas ou acompanhantes de crianças de colo. Eu por outro lado, carregava a mala com um portátil, mais a mala de mão, mais o saco de desporto entalado entre as pernas. A senhora em questão transportava um saquinho de papel e nada mais.

"NÃO, PASSEI O DIA TODO SENTADA"

Ahhhh! Parva! Então não percebeste a indirecta da tua amiga? Tsss, tsss,tsss isso leva-me a concluir que não és uma pessoa inteligente. Deves ser funcionária publica, vá lá (não que eu tenha nada contra as funcionarias publicas, veja-se).

Obviamente que os guinchos que as senhoras emitiam seriam com certeza direccionados a ouvidos mais sensiveis, como por exemplo os dos cães, pois os agudos eram tão grandes e tão alto, que faziam os meus ouvidos encolherem-se...sabem qual é a sensação não é? Aquela espécie de sucção fininha que não é mais que os nossos canais auditivos a imaginarem as unhas passando num quadro de ardosia...

Pondo os meus fones de lado (pois não havia Kate Nash que me impedisse que aquele som estridente me penetrasse os ouvidos, qual violador implacável) não tive outro remédio senão fechar o livro que estava a ler, pois o debate sobre "AQUELA FILHA DA PUTA QUE PEDIU O LIVRO DE RECLAMAÇÕES SEM RAZÃO NENHUMA, ENTÃO A RAPARIGA ESTAVA NO ARMAZÉM A CUMPRIR ORDENS DO PATRÃO E NÃO TINHA CULPA SE NÃO HAVIA NINGUEM AO BALCÃO A ATENDER" era demasiado interessante para poder ser ignorado.

E, obviamente, que se junta o coro masculino.

"AGORA ESSAS GAJAS ESTÃO LIXADAS, PORQUE SE ASSINAREM O LIVRO SEM RAZÃO É LOGO UMA MULTA DE 250 EUROS"

E eu ali no meio, encaixada entre estes pesados argumentos, com um cheiro a bata da escola que pairava no ar, e os meus ouvidos, encolhidos, envergonhados porque não gostam quando dois pedaços de esferovite se encontram.

Infelizmente, aquela conversa perdurou até ao final da minha viagem, terminando com:

"ESTA JUVENTUDE ANDA PERDIDA!"

Pois claro, então?!

A Malandreca